segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Contos da Terceira Idade

                                                  Como se fosse só vinho
                                                                                                        Marta Tallmann
                                                                                                      Vitor Meireles-SC

Uma rua estreita e comprida, levava à casa de Felício. Lá, umas cadeiras rústicas de palha, serviam de poltrona, mesmo que não quisessem. A casa tosca, contratava com uma montanha, onde ele, Felício, se punha, em horas vagas, a observar cabras subindo e descendo-a. Tudo parecia simples. Até ele. Mas dentro daquela cabeça tremeluzente pela ausência de cabelos, e no âmago daquele ser, havia uma história. Calada. Silenciosa. Refugiada para muitos.
Um riacho deitava-se pela periferia de seu mundo: uma chacarazinha modesta.
As águas batiam contra as pedras, gritando o que ele silenciou.
E aquele olhar apagado, cansou-se da mediocridade dos arrogantes e vestiu-se da sabedoria dos plebeus.Passou a habitar seu éden fantástico, projetado por seus encanto, ora efêmero.
Da chaminé, uma fumaça escura saía e se perdia no espaço paralelamente às coias pouco importantes. A lenha no fogão de tijolos, queimava e se extinguia, ao contrário das feridas que ele trazia no peito.
Corpos sobre corpos, passeavam sobre sua mente, e o tumulto imperava, deixando seus olhos grandes e azuis, baço e oscilantes, transformando seu reduto, num tétrico campo de combate.
A macieira em seu quintal, transformava-se em horas ilúcidas, em terríveis e diabólicas trincehrias.
Suspeita era a voz melodiosa, perante sua ilucidez.
Pareciam lendas, suas recordações, Mas não passavam de duras realidades, apesar de remotas.
No céu, aviões e estrelas eram como que gritos de jovens indefesos.
Simultaneamente à coluna em destaque, no jornal, a fotografia de vítimas, servia de manchete. Parecia lendário. E os meninos, alheios, brincavam e ofereciam jornail.
Nas noites de inverno, de uma casinha igualmente tosca, um clarão de luzes vinha acompanhado do som da flauta, como que trazendo a esperança de viver...Felício olhava sobre a mesa o copo de vinha, e sua paz era podada desescrupulosamente. Ex-combatente, mas não para si, porque a guerra é imortal. E lá vive mais um homem a despeito do Dragão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário