A verdadeira historia de Erik
Erik Junior tem cinco anos e quem o vê revirado o chão com a
pazinha no jardim de sua casa, ou enchendo de água a panela para molhar a terra
não imagina o que Erick Pai pensa dele. Parece mentira, mas o garoto tranquilo,
que agora vem com a Mão cheia de feijõezinhos para plantar, é descrito assim
pelo pai se alguém pergunta como ele é:
O Erik? É uma praga, um capeta, uma peste. Um bandido pior
que o Al Capone.
Enquanto o menino, com seu jeito de cientista, semeia os
grãozinhos no solo que preparando com tanto cuidado, como se estivesse
iniciando ali um grande projeto de reflorestamento, vamos tentar descobrir por
que Erik Pai tem uma opinião tão severa sobre esse pequeno benfeitor da
humanidade.
Para que ninguém tome uma atitude precipitada, e não vá logo
supondo que o pai do garoto só pode ser um velho ranzinza e injusto, é
conveniente dizer, desde já, que ele não é um velho, nem ranzinza, nem injusto.
Erik Pai tem 26 anos e é bom, alegre, algumas vezes até
brincalhão.
Digo algumas vezes brincalhão e preciso reconhecer porque é
verdade, que todas as vezes em que alguém o viu brincando, mas brincando mesmo,
com gosto, era sempre com o Erik Júnior que ele estava.
Neste ponto os
leitores devem estar imaginando que ou o Erik Pai chama o filho de
praga, capeta,peste e bandido só de brincadeira ou a historia tem alguma coisa
errada. E eu garanto que o pai do menino é bom, alegre, brincalhão e gosta
muito do Erik Júnior. Mas quando chama o filho de tudo aquilo é porque acha que
ele é mesmo aquilo tudo.
Para começar a esclarecer o mistério, antes que os leitores
se irritem, é preciso dizer que Erik Pai tem a mania de colecionar. Coleciona
vasos de cristal, jarros de vidro, pratos raros e delicados, que ele vem
reunindo há mais de cinco anos, ficam em exposição na sala, para que nas
festinhas e reuniões os amigos possam dizer:
Isso aqui eu não me lembro de ter visto antes. Você comprou recentemente?
Ah... é uma beleza.
Na ultima visita, os amigos da família notaram a falta de
duas peças. Foi aí que Erik Pai explicou tudo. O Erikinho, disse ele, herdou do
avô, que era agricultor, a paixão pela terra. Para ver o menino feliz, é só
deixar que ele brinque no quintal. Não da trabalho nenhum. Mas dentro de casa
ele se modifica, vira um estabanado. Parece que tem implicância com os objetos.
Encosta aqui, esbarra ali, daí a pouco tudo esta no chão, espatifado. Foi assim que aquele cinzeiro e
aquele pratinho?..., Perguntaram os amigos. Foi assim, confirmou Erik Pai
quando entra na sala, ele se transforma numa praga, num capeta numa peste, num
bandido.
Esse e o drama de Erik pai. Toda vez que, no escritório se
lembra de que, naquela hora a mulher pode ter se descuidado e o filho talvez
esteja sozinho na sala, ele pega o telefone e liga. Como agora. Depois do
quinto toque, Erik Pai já foi cercado pelo pânico. Imagina a cena:
A mulher foi fazer
alguma compra e o filho, que deve ter ficado brincando no quintal, ouviu telefone e vai querer atender . só de pensar
que neste momento ele pode ter entrado correndo na sala, onde fica o aparelho,
Erik Pai tem calafrios.
-Alô.
-Alô, filho. Aqui é o papai. O papai. O que você ta fazendo?
- Oi pai. Eu...
- O que você esta fazendo?!
-Eu..
A hesitação do filho faz Erik Pai supor que sua bela coleção
virou um monte de cacos. Vermelho, suado, ele insiste:
-O que você esta fazendo?!
- Oque eu estou fazendo?
Eu estou falando com você
Antes que o Erik pai alem de chamar o filho de peste, praga,
capeta o chame de sínico , é melhor terminar o conto por aqui.
Características:
* Interiorização do relato;
* Evocação de estados emocionais
* Conto urbano
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